A voz em determinadas profissões
(cantores, actores, padres, advogados, juízes, jornalistas, locutores de rádio,
operadores de telemarketing, , políticos, professores e.t.c) representa um dos
principais instrumentos de trabalho, e, neste caso, torna-se fundamental ter o
conhecimento sobre a produção vocal bem como sobre os cuidados necessários para
manter uma voz saudável. Dentro destas profissões estão os professores.
Sabe-se
da grande incidência de alterações vocais em professores, que, muitas vezes,
interferem na prática diária de transmitir os conteúdos através da voz. A causa
de tais alterações, na maioria das vezes, está relacionada com o mau uso e/ou abuso
vocal. Os professores têm um grande uso vocal e utilizam-se da voz durante
toda a época de trabalho sem ter o conhecimento de como produzir uma voz sem
esforço e de maneira eficaz. Comportamentos abusivos como falar durante muito
tempo, falar alto para superar o ruído da sala de aula, numa postura
inadequada, com voz abafada, presa na garganta, utilizando um padrão respiratório inadequado, e hábitos inadequados como ingestão de pouco liquido, uso de
pastilhas para a garganta, etc., são características frequentemente encontradas
entre os professores e que levam ao aparecimento de disfonias funcionais. Logo, é
necessário que estes sejam orientados e treinados para uma prática vocal
adequada que os possibilite transmitir a mensagem sem que haja desconforto ou
esforço vocal. As orientações dizem respeito aos hábitos de higiene vocal que
promovem o conhecimento de condutas vocais preventivas de maneira a evitar o
surgimento da disfonia.
Os professores que mesmo sentindo
sinais de cansaço vocal, continuam a leccionar e a forçar excessivamente a voz
sem tomarem nenhuma precaução acabam por desgastar ainda mais a sua voz
chegando algumas vezes a afonias, isto é perda total da voz, o que pode levar à
finalização precoce da carreira.
Os principais sintomas vocais
que sinalizam um problema de voz em professores são: cansaço e esforço a falar,
falhas na voz ao final do dia ou da semana, rouquidão, pigarro, voz mais grave
e perda dos tons agudos, ardência ou secura na garganta, dor ao falar, sensação
de garganta arranhada, falta de volume e projecção, pouca resistência ao falar…
São inúmeras as causas e
factores relacionados com o aparecimento da disfonia em professores tais como:
factores físicos e ambientais, uso incorrecto da voz factores psicoemocionais,
factores intrínsecos, hábitos vocais inadequados e.t.c. Muitos destes factores
podem ser alterados pelos professores mas para isso é necessário que estes
estejam alertados para esta problemática.
Só recentemente os factores
ambientais estão a ser valorizados como um elemento importante na saúde vocal
dos professores. Embora no passado o foco de intervenção fosse o professor e a
técnica vocal, na última década foi se reconhecendo que há aspectos que
dependem do professor na sala de aula, da sua técnica ou da sua personalidade
(aspectos esses, muitas vezes, os principais responsáveis por um problema
vocal). Há aspectos relacionados sobretudo ao ambiente no qual a actividade
lectiva se desenvolve. Eles são inúmeros e incluem desde o projecto arquitectónico
da sala de aula, os materiais utilizados na construção até a disposição das
salas de aula e o espaço para circulação.
Os ruídos externos (barulho do
recreio, dos corredores, das outras salas de aulas ou da rua) e internos (ventiladores,
ranger de carteiras, crianças barulhentas) é o factor ambiental mais
preponderante para o aparecimento de desgaste vocal. Estes devem ser observados
e minimizados quando interferirem no uso equilibrado da altura da voz do
professor, ou seja quando o professor falar mais alto para sobrepor a sua voz
aos ruídos existentes na sala para que os alunos o possam ouvir
convenientemente. Deve-se tentar minimizar esses problemas para que o professor
não tenha a necessidade de competir com os outros sons, assim este não irão
precisar de falar alto e não esforçam tanto a sua voz.
Também se tem que ter em conta
as diferentes realidades da sala de aula. Pois os problemas ambientais e o uso
que os professores fazem da voz não são iguais em todo o tipo de professores.
Existe uma grande diferença entre os educadores de infância, os professores
primários, os professores do básico e secundário, os professores universitários
e os professores de educação física. Todos estes educadores trabalham em
condições bastante diferentes e com alunos diferentes o que influencia os
problemas que estes têm e a melhor forma de os resolver. Mesmo do mesmo tipo de
ensino também se tem quer ter em conta se o professor lecciona numa escola
antiga ou moderna pois as condições acústicas são diferentes.
Algumas das fontes
de barulhos mencionadas em cima podem tentar ser combatidas pelos professores.
Quando as escolas têm uma má acústica vai acontecer que o ruído das salas ao
lado vai incomodar o professor e também os alunos. Assim os professores tendem a
utilizar comportamentos vocais errados como falar alto, gritar e a utilização
de uma voz mais estridente para que a sua voz consiga superar os ruídos
externos. Em vez disto os professores devem utilizar outras estratégias:
- Incentivar as crianças e os outros professores a
falarem com uma voz normal e não gritarem;
- Minimizar os ruídos fechando portas e janelas que
estejam virados para o recreio ou corredores com barulhos de vozes ou
máquinas;
- Colocarem na sala algum mobiliário para que não
exista tanto eco;
- Retirar cortinas grossas e tapetes da sala de aula
pois estes abafam a voz;
- Colocar os alunos mais barulhentos na parte da
frente da sala;
- Locomover-se pela sala de aula, para assim poder
ser ouvido mais facilmente, evitando falar mais alto quando os alunos
estiverem inquietos;
- Não falar virado para o quadro para não abafar o
som;
- Modifique os ruídos do ambiente desligando ou
reduzindo as rotações do ventilador quando não estiver tanto calor;
- Procure controlar os ruídos de conversa dos alunos
sem gritar . O grito não impõe respeito, só demonstra que o
professor perdeu a paciência, alem de provocar um enorme desgaste vocal,
com atrito intenso das cordas vocais;
- Estabeleça alguns sinais de alerta ( como bater
palmas, utilizar um apito ou bater com algum objecto sobre a mesa) para calar a turma. Ou fique em silencio
de forma a chamar a atenção aos alunos de uma forma indirecta;
- Dispor os alunos de uma forma mais agrupada,
colocar os alunos que fazem mais barulho na parte dianteira da sala de
aula;
- Quando as salas são muito grandes e com muitos
alunos é conveniente o uso de um microfone para ajudar a projectar a voz
mais facilmente;
- Organizar actividades onde falar não é
envolvido como ouvir música e usar gravações e vídeos sempre que for
possível;
- Os professores devem ter aulas de colocação de voz;