O desenvolvimento da linguagem verbal e escrita está dependente da quantidade e qualidade de estímulos a que a criança está exposta (Lentin, 1990).
A linguagem escrita, segundo Zorzi (1998), é um sistema simbólico que aparece no decorrer do desenvolvimento da linguagem oral. Aparece então um segundo sistema simbólico que se divide num subnível receptivo (leitura) e num subnível expressivo (escrita) (Sim-sim, 1997). Ler e escrever são conhecimentos que não podem ser reduzidos ao facto de dominar letras, descodificá-las, ou traçá-las. É necessário também conhecer as diversas funções que a linguagem escrita assume em termos sociais e as variadas formas em que é usada (Zorzi, 2003). Só se pode afirmar que ma criança sabe verdadeiramente ler quando sabe fazer a descodificação grafema-fonema e quando consegue compreender o que está a ler.
Num dado momento da vida de uma criança, começa-se a evidenciar situações formais de ensino cujo objectivo é a aprendizagem da leitura e da escrita. Normalmente, as propostas de alfabetização têm como finalidade expor a criança, sistematicamente, a um determinado método para desenvolver a escrita. A alfabetização consiste num domínio de uma “mecânica” onde se aprende a codificar sons em letras para poder escrever e letras em sons para poder ler. Uma vez que a escrita não é mais do que uma transcrição da oralidade, torna-se importante que a criança ouça bem para que fale bem e daí escreva bem (Zorzi, 1998).
A escrita é vista como uma representação simbólica, correspondendo à aquisição de uma nova língua. Esta não se desenvolve espontaneamente e necessita de recorrer ao ensino formal para desenvolver competências relacionadas com a extracção de significado de cadeias gráficas (leitura) e com a produção de cadeias gráficas dotadas de significado (expressão escrita). Estas competências, embora distintas, relacionam-se constantemente com as da linguagem oral, nomeadamente, as competências ao nível da compreensão oral, ao nível da expressão oral, bem como com as competências relacionadas com a progressiva consciencialização e sistematização do conhecimento implícito do uso da língua (Sim-sim, 1997).
Dada a complexidade deste sistema, observa-se um processo de apropriação gradual pela criança. As crianças são aprendizes activos e não passivos, pois constroem conhecimentos e transformam a língua escrita num objecto de conhecimento. Estas fazem simplesmente uma assimilação das informações que o meio nos fornece. Aprender a escrever não se limita a associar letras e sons ou a fixar a forma das palavras, mas sim corresponde a um processo de conceitualização da linguagem.
É fundamental saber e entender o processo gradual de construção do sistema ortográfico e as dificuldades a ele inerentes. Este conhecimento possibilita uma perfeita distinção entre dificuldades da aprendizagem e distúrbios da aprendizagem. No que diz respeito aos distúrbios da aprendizagem torna-se importante saber o que é disortografia e disgrafia, daí as seguintes definições:
- Disortografia- consiste num “(…) conjunto de erros de escrita que afectam a palavra mas não o seu traçado ou grafia” (Garcia Vida, 1989, cit in: Torres & Fernández). Quando se fala em disortografia dá-se importância à aptidão para transmitir o código linguístico falado ou escrito por meio de grafemas ou letras correspondentes, respeitando a associação correcta entre os sons e as letras, as pecularidades ortográficas de algumas palavras em que essa correspondência não é tão clara, e as regras de ortografia. Muitas vezes os erros ocorrem porque as crianças cometem erros na fala (ex. substituições de sons) e estas alterações podem.se reflectir na escrita. Pois no inicio as crianças escrevem exactamente como falam. Portanto, muitas vezes é necessário resolver o problema de linguagem verbal para que as crianças deixem de dar erros na escrita. Nesta alteração muitas vezes o Terapeuta da Fala tem um papel importante em termos de intervenção.
- Disgrafia- este conceito é abordado em dois contextos: o contexto neurológico relativo às afasias e a abordagem funcional da disgrafia. No primeiro estão incluídas as agrafias que constituem uma manifestação da afasias e implicam anomalias do grafismo, as quais representam, de certo modo, equivalentes articulatório da linguagem. No segundo trata-se de perturbações da escrita que surgem em crianças, e que não correspondem a lesões cerebrais ou problemas sensoriais, mas a perturbações funcionais. Estas são mais fáceis de tratar do que as que têm um substrato neurológico, e são por isso mais susceptíveis de intervenção. Disgrafia é, no fundo, uma perturbação do tipo funcional que afecta a qualidade da escrita do sujeito, no que se refere ao traçado ou à grafia (Torres & Fernandez, 2001). Nesta alteração o Terapeuta da fala não é o profissional com competências para ajudar estas crianças.